Neo-Realismo
Neo-realismo em portugal
Os Primeiros Passos
Em inícios dos anos 30 do Séc. XX, começaram a manifestar-se em Portugal posições contrárias à arte que então se praticava, muito desligada dos problemas reais que o mundo, confrontado com o fascismo e o nazismo, e o país, então já dominado pela extrema direita, enfrentavam. Eram as sequelas da crise de 1929, a reacção das camadas trabalhadoras a essa crise, o aparecimento de grupos políticos que defendiam regimes ditatoriais, as primeiras manifestações do fascismo e do nazismo. A revolução russa de 1917 estava ainda fresca e havia grandes esperanças na sua evolução e no triunfo universal do socialismo. O fascismo e o nazismo pretendiam travar a expansão dessa revolução.

Em 1934, realizou-se o I Congresso dos Escritores Soviéticos, que estabeleceu, através das ideias de Zdanov (as quais, na sua aplicação prática, se mostraram muito mais agressivas e castradoras), linhas de actuação para a arte e teve grande impacte em todo o mundo. Era o Realismo Socialista. Já antes desse acontecimento escritores e artistas plásticos soviéticos praticavam uma arte que se colocava ao lado das classes trabalhadoras e que produziam para elas, embora com uma perspectiva mais abrangente. Em vários países, despontaram artistas denunciando as condições sociais daquelas classes e a exploração a que eram sujeitas: EUA (Mark Twain, Jack London, Sinclair Lewis, Upton Sinclair, Michael Gold, John Steinbeck, John dos Passos, Erskine Caldwel), União Soviética (Andreiev, Gorki, Gladkov, Maiakovski, Cholokov, Alexei Tolstoi, Bulgakov, Ilya Ehrenburg), França (mesmo antes dos anos 30; Zola, Henri Barbusse, Romain Rolland, Roger Martin du Gard e Louis Aragon, Paul Éluard, pouco depois; na pintura, Picasso), na Alemanha (Ernst Glaeser, Anna Seghers), no Reino Unido (no teatro, Bernard Shaw), em Itália(Ignazio Silone, Elio Vittorini, Italo Calvino, Vasco Pratolini pouco depois), Espanha (Federico García Lorca, Rafael Alberti, AntónioMachado), no Brasil (na literatura, Erico Veríssimo, José Lins doRego, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Amando Fontes, Joracy Camargo;na pintura, Portinari), no México (os muralistas, Orozco, Rivera, Siqueiros), em Cuba (Nicolás Guillén), no Chile (Pablo Neruda) e outros países da América Latina.Surgiram, então, em vários jornais e revistas portugueses (Seara Nova, Liberdade, Globo, Gleba, Gládio, de modo esporádico naquela revista) apesar da Censura, posições fazendo a defesa teórica dessa arte e da teoria marxista, sem que daquela houvesse ainda manifestações artísticas concretas.

Antes disso, em 1933, Bento de Jesus Caraça pronunciou a importante conferência “A Cultura Integral do Indivíduo – Problema Central do Nosso Tempo”. No jornal Liberdade, dirigido por Bento de Jesus Caraça e José Rodrigues Miguéis, em 1934 e 1935 foram publicados textos de Álvaro Marinha de Campos, Mário Dionísio, Vasco Magalhães Vilhena, Francisco Ramos da Costa, Álvaro Cunhal, defendendo as novas ideias.

A partir de 1935/1936, aparecem vários jornais escolares e, depois, as páginas literárias de jornais já existentes da chamada “província”, da responsabilidade de gente muito jovem que queria intervir, nomeadamente através da arte. E, ainda, alguns jornais. Citam-se, em particular, entre os que tiveram páginas literárias juvenis, os jornais Aurora do Lima, de Viana do Castelo, Renovação, de Vila do Conde, Heraldo, de Lousada, Estrela do Minho, de Vila Nova de Famalicão, Flôr do Tâmega, Amarante, O Cávado, de Esposende, O Comércio da Póvoa, de Póvoa do Varzim, O Trabalho, de Viseu, Independência d’Águeda, A Ideia Livre, de Anadia, Gazeta de Coimbra, Diário de Coimbra, Jornal da Figueira, de Figueira da Foz, Ecos do Alcoa, de Alcobaça, Ecos de Sintra, O Mensageiro do Ribatejo, de Vila Franca de Xira, O Barreiro, Democracia do Sul, de Évora, A Mocidade, de Ponte de Sor, Jornal de Elvas, Diário do Alentejo, de Beja, Jornal de Lagos, Ecos do Sul, de Vila Real de Sto António, etc. E, entre os jornais, AlmaNova, de Braga, Foz do Guadiana, de Vila Real de Sto António, etc.

O início da Guerra Civil de Espanha teve um papel determinante nesse despontar. Em Vila Franca de Xira, em 1936, desponta o chamado “Grupo Neo-Realista de Vila Franca”, com Alves Redol, António Dias Lourenço, Arquimedes da Silva Santos, Garcez da Silva, Bona da Silva, Mário RodriguesFaria e Carlos Pato, que conseguem (mas só em 1939) dirigir uma“Página Literária” no jornal O Mensageiro do Ribatejo. Um pouco mais tarde, em muitas outras localidades, com especial relevo para Coimbra, em torno de João José Cochofel e da sua notável biblioteca, nascem grupos idênticos.
As ideias formadoras: o marxismo
No jornal O Diabo começam a aparecer artigos desses jovens marxistas, que vão substituindo as influências anarco-sindicalista e republicana de esquerda. Mas também estas correntes defendem uma nova arte, que deve ter preocupações sociais e baseiam-se em alguns dos mesmo textos seguidos pelos marxistas. Em 1937, estreia a sua publicação o jornal Sol Nascente, inicialmente com aquelas mesmas influências, mas rapidamente dominado pelos jovens marxistas.

Nestas publicações surgem divulgações do materialismo dialéctico, do materialismo histórico, da economia política marxista, através de escritos de Marx, Engels, Lenine, Staline, publicados com pseudónimos ou sob a forma de textos adaptados por jovens colaboradores. Aparecem, também, artigos defendendo uma nova arte, baseados em Arte e Vida Social, de Georges Plekanov e trabalhos de Marx, Lenine e outros. Armando Martins, Jofre Amaral Nogueira, Mário Dionísio, Vasco Magalhães Vilhena, António Ramos de Almeida, Rodrigo Soares, Joaquim Namorado, Álvaro Cunhal, Fernando Piteira Santos, Avelino Cunhal, Manuel Campos Lima destacam-se, alguns apenas na vertente filosófica.

Os jornais citados começam, então, a apresentar, em particular em 1936 e mais intensamente em 1937, contos, poemas e desenhos desses jovens. Estalam as polémicas entre esses jovens e os intelectuais ligados à revista presença. Os presencistas clamam por obras de relevo dessa gente jovem que se expande em vendaval por todo o lado, pois o Movimento alastra por todo o país, das cidades mais importantes ao interior. Num artigo sobre o escritor brasileiro Amando Fontes publicado em O Diabo em Dezembro de 1938, Joaquim Namorado baptiza o novo movimento de Neo-Realismo, porque, por motivos de Censura, não podia designá-lo por aquilo que idealizava: Realismo Socialista.
As primeiras manifestações consistentes
São publicados os livros de poesia de António Ramos de Almeida, em 1938, Sinal de Alarme e, em 1939, Sinfonia de Guerra; em 1938, o livro de contosIlusão na Morte,de Afonso Ribeiro, com dois ou três contos manifestamente neo-realistas e, em 1939, a obra mais substancial, o romance Gaibéus,de Alves Redol, autor que publicou em 1940 o volume de contos NasciCom Passaporte de Turista e, em 1941, outro romance: Marés. Em 1940, Manuel da Fonseca publicou o livro de poesia Rosados Ventos, em 1941,  Joaquim Ferrer deu à estampa Rampagodos,e, no final desse mesmo ano, Soeiro Pereira Gomes fez sair Esteiros.   Entre 1942 e 1944 publicou-se em Coimbra a colecção de poesia NovoCancioneiro – Fernando Namora, Mário Dionísio, João José Cochofel, Joaquim Namorado, Álvaro Feijó,Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, Sidónio Muralha, FranciscoJosé Tenreiro, Políbio Gomes dos Santos.

Entre 1943 e 1946 publicou-se a colecção Novos Prosadores – Fernando Namora, Carlos de Oliveira, Vergílio Ferreira, Mário Braga, Mario Dionísio,Joaquim Ferrer, João Falcato, Tomaz Ribas, etc. A partir daqui revelou-se uma pleiade de escritores, de várias gerações, que com os anteriores somam algumas dezenas, alguns dos quais iniciaram a sua actividade literária antes dos já referidos, embora em manifestações de pequena monta ou de índole não neo-realista: António Vicente Campinas, Garibaldino de Andrade, Manuel Mendes, Avelino Cunhal, JoséMarmelo e Silva, Faure da Rosa, Antunes da Silva, Alexandre Cabral, Manuela Porto, Castro Soromenho, António Vitorino,  Rogério de Freitas, Leão Penedo, Romeu Correia, Manuel do Nascimento, José Ferreira Monte, Papiniano Carlos, Aleixo Ribeiro, Orlando Gonçalves, Joaquim Lagoeiro, António Borga, Ilse Losa, etc., considerados, também, da 1ª vaga, 1ª geração ou 1ª fase. Sem falar naqueles que nos jornais locais e regionais publicavam poesia, ficção e ensaio que não atingia o mesmo nível de qualidade ou de impacte nacional.

No ano seguinte àquele em que em Portugal foram proibidos SolNascente e O Diabo (1940), surgiu em Moçambique (Lourenço Marques), o jornal Itinerário,dirigido por Afonso Ribeiro e Augusto dos Santos Abranches. Nele sedava notícia de livros de neo-realistas publicados em Portugal e se publicavam textos desses mesmos escritores, substituindo em parte aqueles jornais. Era a Censura menos rigorosa nas ex-colónias?
As primeiras manifestações nas artes plásticas
Ainda nos anos 30, surgiram em O Diabo e Sol Nascente desenhos e gravuras (Frederico George, Manuel de Azevedo, Arco,Somar, Ares, Huertas Lobo), alguns inspirados no expressionismo alemão. Já nos anos 40 e 50, os muralistas mexicanos e Portinari, que não o “Realismo Socialista soviético”, inspiraram Manuel Ribeiro de Pavia, Júlio Pomar, Lima de Freitas, Cipriano Dourado, Vespeira, Rogério Ribeiro, Júlio Resende, Victor Palla, Querubim Lapa, Nuno San-Payo, Jorge de Oliveira, Augusto Gomes e muitos outros; Manuel Filipe com clara influência do expressionismo alemão. Na escultura destacaram-se Maria Barreira e Vasco da Conceição, José Farinha, José Dias Coelho e outros. Muitos destes artistas ilustraram obras de escritores neo-realistas, numa colaboração muito frequente entre escrita e artes plásticas, a qual não era inédita, mas era muito menos comum com escritores de outras correntes literárias. No ensaio e na crítica vieram a público Mário Dionísio, João José Cochofel, Manuel Mendes, Vitorino Magalhães Godinho, Huertas Lobo, JoaquimBarradas de Carvalho, Luís de Albuquerque, Egídio Namorado, Armando Castro, Luís Francisco Rebello, Joel Serrão, Rui Grácio, Óscar Lopes, António José Saraiva, Mário Sacramento, Armando Bacelar,Rui Feijó, Raúl Gomes (também director da revista Vértice desde o nº 1), etc., alguns dos quais já em meados dos anos 40.

A Editorial Inquérito foi uma das editoras em que os mais destacados destes escritores publicaram, frequentemente com capas e ilustrações de artistas plásticos. Em 1945, foi fundada a editora e distribuidora Publicações Europa-América, que teve grande desenvolvimento em finais dos anos 50 e nos anos 60, publicando alguns dos escritores neo-realistas de maior relevo.  

Entre 1941 e 1948, publicou-se a Biblioteca Cosmos, dirigida por Bento de Jesus Caraça, com a chancela de Edições Cosmos, de Manuel Rodrigues de Oliveira, com livros dedicados a vários ramos da cultura e da ciência. ManuelRodrigues de Oliveira esteve com Bento Gonçalves, Secretário-Geraldo PCP, na prisão de Angra do Heroísmo, onde combinaram que o primeiro, quando fosse libertado, constituiria uma editora destinada a publicar livros que educassem o povo trabalhador. E assim apareceu Edições Cosmos.
As proibições de 1940 e os novos porta-vozes
Com a proibição de O Diabo e Sol Nascente em 1940 e, depois, Síntese e Pensamento, o desaparecimento das páginas literárias, o aumento da repressão e da acção da Censura com a vitória das forças fascistas em Espanha, o Movimento Neo-Realista ficou sem imprensa para se exprimir, teoricamente e através da prática artística, embora os escritores continuassem a publicar com cada vez maior sucesso junto do público, sucedendo-se as edições.

Com o fim da guerra assiste-se a um novo impulso e os neo-realistas tomaram conta da revista Vértice ainda em 1945, a qual se transformou no orgão do Movimento. Apesar de grandes dificuldades financeiras e das ofensivas da Censura,conseguiu perdurar até ao 25 de Abril, sempre com Raúl Gomes como Director e Mário Braga como Editor, continuando depois daquela data,até ter sido adquirida por uma editora. Em diferentes períodos, manteve-se devido à persistência de um ou dois colaboradores.
O Neo-Realismo nas artes plásticas e no teatro
Antes disso, em 1943, realizou-se no Porto a “Exposição Independente”, em que participaram os jovens artistas que frequentavam o Café Magestic: entre os quais Júlio Resende, Rui Pimentel, Victor Palla e Júlio Pomar. Esta exposição foi a Coimbra em 1944 e Lisboa em 1945 e, depois, a outras cidades. Na inauguração desta exposição emLisboa, no Instituto Superior Técnico, Júlio Pomar e Victor Palla pronunciaram duas conferências sobre arte, em que os princípios do Neo-Realismo foram apresentados, embora sem se aludir a esta designação. Também em 1945, Manuel Filipe realizou uma exposição em Coimbra e outra no Porto, referindo-se Joaquim Namorado à deCoimbra em Vértice.

Ainda em 1945, realizou-se em Évora a “IX Missão Estética de Férias”, em que participaram, entre outros, Júlio Pomar, Francisco Castro Rodrigues,Vasco da Conceição, tendo-se juntado ao grupo o muito jovem Lima de Freitas. No mesmo ano, Júlio Pomar dirigiu o suplemento “Arte” no jornal A Tarde, no Porto, onde ele, Víctor Palla, Arco (Rui Pimentel), Fernando José Francisco, Aníbal Alcino, M. Azeredo, Pedro Oom, Mário Cesariny de Vasconcelos, António Pimentel, Vespeira defenderam a nova arte, com Alfredo Ângelo de Magalhães e João Henriques a dedicarem-se a uma nova arquitectura. Júlio Gesta e José Leonel abordaram o cinema e Mário Cesariny a música. Alguns destes nomes, que começaram no Neo-Realismo, entraram em divergência com este Movimento e vieram a integrar o Surrealismo. Nesta situação também esteve José Augusto França.

Em 1946, iniciaram-se asGerais de Artes Plásticas, impulsionadas pelos jovens artistas do MUD Juvenil, em que o Movimento Neo-Realista apareceu em força, não só no desenho e gravura, como na pintura, escultura, tapeçaria, “design” e, até, arquitectura. É a partir destas exposições que o Neo-Realismo nas artes plásticas teve uma projecção pública relevante, como acontecera na literatura no início dos anos 40. No teatro surgiu a experiência do Teatro Estúdio do Salitre a partir de 1946, em que participaram Luiz Francisco Rebello, Alves Redol, Arquimedes da Silva Santos e várias personalidades ligadas ao teatro, com decisiva intervenção do italiano Gino Saviotti, que dirigia o InstitutoItaliano de Cultura, em cujas instalações foi construída aquela sala de teatro. Alves Redol apresentou aqui sua primeira peça de teatro (Maria Emília).Nesta sala e na da Sociedade Guilherme Cossul formou-se uma nova vaga de actores que marcaram o teatro português nas décadas seguintes.Ainda nos anos 40, Luiz Francisco Rebello escreveu as suas primeiras peças de teatro, uma das quais O MundoComeçou às 5 e 47 foi apresentada naquele Teatro Estúdio. Em Coimbra, no Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), dirigido por Paulo Quintela, professor universitário não aderente ao Neo-Realismo, principalmente Arquimedes da Silva Santos e Deniz Jacinto procuraram dar um cunho neo-realista ao grupo.
Anos 50: a 2ª vaga
Pelos finais dos anos 40 e inícios dos anos 50, despontou o que é designada por 2ª vaga, 2ª geração ou 2ª fase do Neo-Realismo com José Cardoso Pires, Augusto Abelaira, Orlando da Costa, Jorge Reis, Júlio Graça, Manuel Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues (mais tardiamente) na ficção, Daniel Filipe, João Apolinário, José Fernandes Fafe, ArmandoVentura Ferreira, Orlando Neves, Egito Gonçalves, Luís Veiga Leitão na poesia. Estes dois últimos, embora nascidos no período correspondente aos primeiros neo-realistas, só começaram a publicar livros nos anos 50.

Joaquim Namorado e Carlos de Oliveira dirigiram a Colecção Galo, de Coimbra, a qual se distinguiu por ter um logótipo de Júlio Pomar que representava uma cabeça de galo, a qual, de 1948 até, talvez, 1953, publicou diversos volumes em edição de autor, de José Gomes Ferreira, Carlos de Oliveira, Armindo Rodrigues, José Ferreira Monte (2), João José Cochofel.

Armindo Rodrigues, poeta mais velho mas que aderiu ao Movimento no início dos anos 40, dirigiu a Colecção Cancioneiro Geral, em Lisboa, numa editora dos escritores, Centro Bibliográfico, em que estiveram Alves Redol, Alexandre Cabral, Rogério de Freitas, Orlando Gonçalves e outros e com a chancela da qual José Cardoso Pires publicou o seu primeiro livro (de contos), em 1949. Aqueles escritores e outros publicaram ali obras nos anos 50.

Neste período, surgiu o poeta, crítico e ensaísta literário Alexandre Pinheiro Torres e, também, Alberto Ferreira, o qual, nascido no mesmo período dos primeiros neo-realistas, só nestes anos publica os seus primeiros ensaios de filosofia. Mais tarde também, escreverá várias obras de ficção. Do primeiro, é célebre a polémica com Vergílio Ferreira nos anos 60, quando este se afastou do Neo-Realismo. Nesta fase, continuaram activos os críticos e ensaístas anteriormente referido se apareceram Mário Braga, Deniz Jacinto, José Fernandes Fafe, Urbano Tavares Rodrigues e outros. Jornais diários como O Comércio do Porto (com Óscar Lopes), O Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias (com António Ramos de Almeida), Diário de Lisboa, Diário Popular, Diário Ilustrado, tiveram páginas literárias em que os neo-realistas tinham maior ou menor preponderância, mas em que diferentes correntes artísticas eram contempladas.
A polémica interna do Neo-Realismo
Em 1952 - e é provável que já antes houvesse manifestações concretas, embora não públicas - emergiram divergências explicitas entre os neo-realistas com o aparecimento do designado “Grupo de Amigos da Vértice”, que entendia que a revista não estava a cumprir os objectivos para que fora criada. Mas, na realidade, confrontavam-se duas concepções diferentes de arte, as quais, no entanto, já existiam desde o início do Movimento. Ainda naquele ano, veio a público na revista uma polémica entre João José Cochofel e António José Saraiva. Carlos de Oliveira, Mário Dionísio, Fernando Lopes Graça apoiaram o primeiro. Em Maio de 1954, António José Saraiva escreveu o conhecido artigo “A ponte abstracta” e, em Setembro, António Vale (Álvaro Cunhal) veio tomar posição na mesma linha de Saraiva. As hostes neo-realistas dividiram-se. Menos entre os escritores, em que os mais relevantes alinharam ou estavam perto de Cochofel e Dionísio. Mas todos continuaram a praticar uma arte voltada para a vida, numa perspectiva marxista, embora com leituras diferentes do marxismo.

No início desta polémica, ainda em 1952, Publicações Europa-América recomeça a editar a revista Ler (inicialmente boletim bibliográfico), de que era Director Francisco Lyon de Castro, a qual, além de divulgar as obras publicadas pela editora, foi o porta voz dos neo-realistas do grupo divergente, Mário Dionísio / João José Cochofel / Carlos de Oliveira / Fernando Lopes Graça, tendo Fernando Piteira Santos como responsável editorial. Não tendo agradado ao sector mais radical do Neo-Realismo (António José Saraiva colaborou apenas no início), contou com a colaboração dos escritores referidos e de José Gomes Ferreira, Luis Francisco Rebello, Tomás Ribas, Manuel Mendes, o próprio Piteira Santos e o crítico Álvaro Salema. Alves Redol e Fernando Namora foram entrevistados.
As editoras ligadas ao Neo-Realismo
Em 1954, Orlando Gonçalves fundou a editora Orion, mais tarde ligada ao jornal Notícias da Amadora, quando assumiu a sua direcção em 1963. Nela publicaram, contos, romances, teatro, o próprio Orlando Gonçalves, Antunes da Silva, Romeu Correia, Faure da Rosa, Garibaldino de Andrade, Júlio Graça, Alexandre Cabral, Manuel Ferreira, Franco de Sousa, Miguel Serrano, Lília da Fonseca, até 1959. Ainda no início dos anos 50, foram fundadas outras editoras ligadas ao Neo-Realismo, como Livros Horizonte e Iniciativas Editoriais. Esta última, constituída por iniciativa de José Fernandes Fafe, Carlos de Oliveira e José Gomes Ferreira, para além de publicar grandes obras de referência, como Contos Tradicionais Portugueses, volumes organizados por Carlos de Oliveira e José Gomes Ferreira, Grande Dicionário de Literatura Portuguesa e de Teoria Literária, dirigido por João José Cochofel, Romanceiro Geral do Povo Português, organizado por Alves Redol, com colaboração de Fernando Lopes Graça na vertente musical, publicou várias colecções de textos de influência marxista, e livros de poesia de Afonso Duarte, José Gomes Ferreira, Manuel da Fonseca, Mário Dionísio, Carlos deOliveira, José Fernandes Fafe, de ficção de Ilse Losa e de entrevistas a operários de Júlio Graça.

Em 1956, foi fundada pelos neo-realistas a Cooperativa Gravura, que introduziu a gravura em Portugal de forma sustentada e editou obras de artistas de várias correntes estéticas, perdurando até depois do 25 de Abril. Cipriano Dourado e Alice Jorge foram os especialistas que ensinaram aos outros as técnicas da gravura. A revista Vértice iniciou em 1957 a colecção “Textos Vértice”, na qual se publicou, em edições de autor, ficção, ensaio e poesia, com textos de Mário Braga, Vergílio Ferreira, Papiniano Carlos, Egídio Namorado, Antunes da Silva, Luís de Albuquerque, Pedro da Silveira, Manuel Ferreira e Alberto Ferreira.

Em 1956, foi fundada pelos neo-realistas a Cooperativa Gravura, que introduziu a gravura em Portugal de forma sustentada e editou obras de artistas de várias correntes estéticas, perdurando até depois do 25 de Abril. Cipriano Dourado e Alice Jorge foram os especialistas que ensinaram aos outros as técnicas da gravura.

João José Cochofel, em 1958, transformou Gazeta Musical, revista de que fora fundador e prioritariamente dedicada à música, em Gazeta Musical e de Todas as Artes, mais abrangente em termos temáticos do que a anterior e mais aberta do que Vértice em termos ideológicos. Todavia, os neo-realistas de maior projecção pública (Alves Redol, Fernando Namora, Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira), que eram, também, os que aderiam às ideias de Mário Dionísio e Cochofel, tiveram nesta revista ampla audiência, através de textos escritos sobre as suas obras e entrevistas. Colaboraram Fernando Lopes Graça, Manuel Mendes, Faure da Rosa, Arquimedes daSilva Santos, Mário Dionísio, Vergílio Ferreira, Luís Francisco Rebello, Deniz Jacinto, Augusto Abelaira, José Fernandes Fafe, Urbano Tavares Rodrigues, Alexandre Pinheiro Torres, Joaquim Barradas de Carvalho, Rui Grácio, Joel Serrão, além de José Rodrigues Miguéis, um precursor do Neo-Realismo.
Cinema e Música

No cinema, os neo-realistas tentaram influenciar o aparecimento de um novo cinema português, fazendo os argumentos ou os diálogos de vários filmes. O realizador Manuel Guimarães, cujo filme Saltimbancos (1951) se baseava num romance de Leão Penedo, em Nazaré (1952) seguiu um argumento de Alves Redol e em Vidas Sem Rumo (1952-1956) utilizou diálogos da autoria deste último. Seguiram-se outros, nomedamente, O Crime de Aldeia Velha (1964), baseado numa peça de Bernardo Santareno e O Trigo e o Joio (1965) com base no romance homónimo de Fernando Namora. Antes, Manoel de Oliveira realizara Douro, Faina Fluvial (1931) (documentário) e Aniki Bobó (1942) (longa metragem), que muitos críticos consideram neo-realistas.

Na música, Fernando Lopes Graça, não só compôs obras baseadas na música tradicional portuguesa mas transmitindo as novas ideias, como produziu textos teóricos e ensaios. Nos anos 60, 70 e 80, Michel Giacometti, com alguma colaboração de Lopes Graça, recolheu música tradicional portuguesa.

Anos 60: a 3ª vaga
Em 1960, José Carlos de Vasconcelos, então estudante em Coimbra, publicou, com ilustração de Cipriano Dourado, um livro de poemas, evento que talvez possa ser considerado a inauguração de uma 3ªvaga, 3ªgeração ou 3ªfase do Neo-Realismo. Na colecção “Cancioneiro Vértice”, publicada no âmbito da revista Vértice, vieram a público obras de poesia de Fernando Assis Pacheco (1963), José Carlos de Vasconcelos (1964), Manuel Alegre (1965), Rui Namorado (1970), além dos neo-realistas da 1ªvaga João José Cochofel (1966) e Joaquim Namorado (1966), etc. Ainda na poesia, mas através doutras editoras, manifestaram-se Armando Ventura Ferreira, Manuel Simões, José Carlos Ary dos Santos, etc.. Na ficção, Jorge Reis (com idade dos neo-realistas de 2ª vaga, só em 1961 publicou o seu primeiro livro, o romance Matai-vos Uns aos Outros), Mário Ventura, Baptista Bastos, Miguel Serrano, Júlio Conrado, Dias de Melo. Nesta fase, destacaram-se os críticos e ensaístas literários anteriores, como Mário Dionísio, João José Cochofel, Mário Sacramento, Óscar Lopes, António José Saraiva, continuaram activos outros, como José Fernandes Fafe, Alexandre Pinheiro Torres, Urbano Tavares Rodrigues, e apareceram outros, como Rogério Fernandes, José Carlos de Vasconcelos, Fernando Assis Pacheco, Rui Namorado, Manuel Simões, Mário Vilaça, António Rebordão Navarro, Eduardo Prado Coelho, e muitos dos referidos como colaboradores de Seara Nova, alguns dos quais mais tarde se afastaram do Neo-Realismo ou mesmo do marxismo.

Nos anos 60, vários escritores da 1ª vaga, na fase de maturidade, reescreveram os seus livros, introduzindo, por vezes, alterações profundas: Alves Redol, Carlos de Oliveira, Fernando Namora; e publicaram as suas obras mais relevantes. Manuel da Fonseca publicou Seara de Vento.
Os jornais e as revistas na 3ª vaga
A revista Seara Nova, passa a estar nas mãos dos marxistas em 1959. Colaboram, nos anos 60, Augusto Casimiro, José Rodrigues Miguéis, João José Cochofel, Armando Castro, Mário Sacramento, Manuel Mendes, Óscar Lopes, Lima de Freitas, Augusto da Costa Dias, Alberto Ferreira, Victor de Sá, José Tengarrinha, Jacinto Baptista, José Fernandes Fafe, Urbano Tavares Rodrigues, Augusto Abelaira, Rogério Fernandes, Luís de Carvalho e Oliveira, Eduardo Guerra (pseudónimo de Gilberto Lindim Ramos), Adriano de Carvalho, Jorge Reis, Sottomayor Cardia, António Reis, António Coimbra Martins, Alexandre Pinheiro Torres, Eduardo Prado Coelho, Artur Ramos, Jorge Peixinho, Mário Vieira de Carvalho, J. Vaz Pereira, Manuel Machado da Luz, etc., etc..  Os jornais diários já citados, O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias, Diário de Lisboa, Diário Popular, Diário Ilustrado, continuaram com as páginas literárias dirigidas por neo-realistas ou com grande influência sua. Álvaro Salema dirigiu o suplemento literário do Diário de Lisboa, tendo uma colaboração assídua de Mário Sacramento. O suplemento Juvenil do mesmo jornal, iniciado por Augusto da Costa Dias e continuado durante vários anos por Mário Castrim, teve grande influência junto da juventude que se preocupava com a literatura (em grande parte, estudantes que participavam nas lutas estudantis desta época) e foi o alfobre de numerosos escritores, ensaístas e críticos que se vieram a destacar.

Reapareceram as páginas literárias orientadas por neo-realistas em jornais regionais diferentes dos citados e em alguns dos mesmos, como Notícias de Guimarães, de Guimarães, Independência d’Águeda, de Águeda, Litoral, de Aveiro, Mar Alto e Notícias da Figueira, ambos de Figueira da Foz, O Almonda, de Torres Novas, Badaladas, de Torres Vedras, “Labareda” em O Templário, de Tomar, A Nossa Terra e Jornal da Costa do Sol, ambos de Cascais, A Planície, de Moura, Vários jornais regionais, como Notícias da Amadora, Jornal do Fundão, Badaladas, de Torres Vedras e outros, mesmo sem ser nas páginas literárias, deram relevo ao Neo-Realismo e aos seus cultores.  

Em 1961, foi lançado o Jornal de Letras e Artes, em que os neo-realistas tiveram bastante relevo, além do mais, por integrarem a corrente artística mais relevante. Por esta altura, a maioria dos escritores mais conhecidos declarava-se neo-realista. 1960 assistiu à fundação da Editorial Estampa, que publicou, apesar da Censura, numerosos títulos sobre teoria marxista e, mais tarde, as obras de José Rodrigues Miguéis. Teve muitos livros proibidos pela Censura.
As editoras na 3ª vaga
Nesse mesmo ano, foi constituída em Sá da Bandeira (Angola) a editora Publicações Imbondeiro, por iniciativa, principalmente, de Garibaldino de Andrade (que fora director do jornal A Mocidade, em Ponte de Sor e que emigrara para a colónia) e Leonel Cosme, a qual teve um papel primordial na divulgação de escritores angolanos de matriz neo-realista ou próxima, mas publicando, também, escritores portugueses.

A Prelo Editora foi fundada no início dos anos 60, publicando textos de ensaístas de tendência marxista, como António Borges Coelho, Flausino Torres,Mário Sottomayor Cardia, Blasco Hugo Fernandes, Sérgio Ribeiro (Economia) e textos de ficção de Avelino Cunhal, Manuel da Fonseca, Sidónio Muralha, Alexandre Cabral, Antunes da Silva, Mário Braga, Jorge Reis, Baptista Bastos, Álvaro Guerra, João de Melo, Júlio Conrado, Júlio Moreira, J. Rentes de Carvalho, Franco de Sousa, Teixeira de Sousa, Dias de Melo, Altinodo Tojal, Mário Castrim, António Modesto Navarro, o cabo-verdiano Baltasar Lopes, uma selecção de contos de autores neo-realistas ribatejanos e Romeu Correia com teatro.

Tomar viu fundar-se em 1966 a editora Nova Realidade, dirigida por Manuel Simões e Carlos Loures, que publicou o primeiro livro de poesias que José Afonso utilizou nas suas canções (Cantares), a 1ª edição de O Canto e as Armas, de Manuel Alegre e textos de António Cabral, Manuel Simões, Carlos Loures, Armando da Silva Carvalho, José Ferreira Monte, Eduardo Guerra Carneiro, etc.  

Em 1962, começou a publicar-se com chancela da Portugália Editora a Colecção Portugália, dirigida por Augusto da Costa Dias, em que se editaram livros deste ensaísta, Joel Serrão, Flausino Torres, Alexandre Cabral, José Tengarrinha, Alberto Ferreira, Victor de Sá, Armando Castro, António Borges Coelho. Muitos dos textos são do domínio da história. Mas historiadores marxistas também foram Fernando Piteira Santos, António de Sousa, Jorge Borges de Macedo (fase inicial), Luís de Albuquerque.
O teatro, o Novo Cinema Português, a canção de intervenção
No teatro, Romeu Correia escreveu peças que foram publicadas nos anos 50 a 80, algumas das quais representadas, apesar da Censura, mesmo no oficial Teatro Nacional D. Maria II, dirigido por Amélia Ray Colaço e Robles Monteiro. Alexandre Babo, apesar de nascido em 1916, apenas nos anos 50 começou a publicar peças de teatro, prolongando tal escrita até aos anos 70. Foi, ainda, crítico de teatro, ensaísta e romancista. Também Costa Ferreira, advogado e actor, nascido com os neo-realistas da 1ª vaga, só nos anos 50 publicou teatro, algum do qual conseguiu que fosse representado. Nos anos 60 e 70, vieram a público textos de Miguel Franco, sendo que O Motim foi levada à cena por Amélia Rey Colaço no Teatro Nacional D.Maria II, mas proibida após uma representação em que esteve presente o então Presidente da República Almirante Américo Thomaz. Bernardo Santareno, que começou a escrever para teatro em finais dos anos 50 textos com grande intensidade dramática e grande êxito público, aproximou-se do Neo-Realismo em 1966 com O Judeu, não abandonando essa via nos anos seguintes. Luís de Sttau Monteiro, que trouxe a público as suas primeiras peças de teatro no início dos anos 60, é considerado próximo do Neo-Realismo. Também Carlos Coutinho e Jaime Gralheiro escreveram para teatro. Inúmeros grupos de teatro amador por todo país representaram os autores neo-realistas nacionais e estrangeiros ou apresentaram uma leitura neo-realista de peças que o não eram. No início dos anos 60, surgiu uma nova geração de cineastas que deram origem ao Novo Cinema Português, com muitos pontos comuns com a designada 2ª geração do Neo-Realismo: Ernesto de Sousa, Paulo Rocha, Fernando Lopes, António da Cunha Teles, José Fonseca e Costa, Artur Ramos, Alberto Seixas Santos, António Macedo. Ernesto de Sousa, sempre se considerou um neo-realista, mesmo quando aderiu a uma arte que não o seria.

Os cine-clubes, com início nos anos 50, tiveram grande desenvolvimento nos anos 60, transmitindo uma visão do cinema e da sociedade adoptada pelos neo-realistas. Na música, surgiu Carlos Paredes e despontaram vários cantautores que propuseram a chamada “canção de protesto” ou “de intervenção”, com muitos pontos de contacto com o Neo-Realismo: José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Manuel Freire, José Jorge Letria, Francisco Fanhais, etc..
Anos 70: a 4ª vaga
Nos finais do anos 60 e inícios de 70, surge uma 4ª vaga, 4ª geração ou 4ª fase, com António Modesto Navarro, José Manuel Mendes, José Jorge Letria, Carlos Coutinho, etc.. Depois do 25 de Abril, apesar de algumas terem sido escritas provavelmente durante a prisão do autor, vêm a público as obras de ficção de Álvaro Cunhal, mantido durante vários anos incógnito, com o pseudónimo de Manuel Tiago.

Na crítica e no ensaio aparecem muitos nomes, entre os quais, na revista Vértice, José Manuel Mendes, Vital Moreira, António Avelãs Nunes e, na Seara Nova, alguns dos colaboradores anteriormente citados.

A Editora Inova surgiu em 1968, pele mão de José da Cruz Santos, com direcção literária de Óscar Lopes, publicando muitas obras  de orientação marxista e ficção de escritores de várias nacionalidades da mesma tendência ou próxima.  1970 marca o aparecimento da editora Centelha em Coimbra. Sem ter uma predominância ideológica, publicou títulos de Marx, Lenine, Mao-Tsé-Tung e Trotsky, além de obras de ficção de autores, mais uns, menos outros, próximos do Neo-Realismo. Como seria de esperar, teve muitos livros proibidos pela Censura. No Porto, Arsénio Mota promoveu publicações com a chancela de Razão Actual, com autores de várias sensibilidades marxistas e autores galegos.

Em 1971, com chancela da Atlântica Editora, de Coimbra e algumas edições de autor, iniciou-se a publicação da 2ª série dos “Textos Vértice”, com ensaios de Rui Clímaco, Armando Castro, A. J. Avelãs Nunes, Joaquim Gomes Canotilho, V. Tribuna Moreira (Vital Moreira), Orlando Carvalho, Mário Vilaça, Luís de Albuquerque, Egídio Namorado.

Em 1973, a editora Orion retomou a publicação, com a sigla “n.a.* orion”, que foi mais ou menos regular até 1991, com apenas duas edições desde esta data até 2006; textos, na sua maioria de ficção, de Orlando Gonçalves, Helena Neves, António Modesto Navarro, Josué da Silva, Carlos Pinhão, A.Vicente Campinas, Maria Luísa Antunes.

Nos anos 70, emergiram novas editoras de orientação marxista publicando obras teóricas, desafiando a Censura, como a Livraria Júlio Brandão, a Manuel Rodrigues Xavier e outras ligadas à extrema esquerda, como Maria da Fonte e Povo e Cultura. Depois do 25 de Abril, apareceu uma nova editora com gente de esquerda muito próxima do Neo-Realismo, a Diabril, com um estatuto de cooperativa. Além de muitas obras de carácter político adequadas ao processo que então se vivia, publicou textos de ficção, nomeadamente iniciando a colecção das obras completas de José Gomes Ferreira. Veio a público, ainda, a editora Forja, mais virada para a ficção, que publicou livros de Manuel da Fonseca (tipo obras completas), Baptista Bastos, João Apolinário e outros não conotados com o Neo-Realismo.

Também se fundou a Editorial Caminho, que editou muitas obras de numerosos autores neo-realistas das várias vagas e as obras completas de alguns deles. Dedicou-se, também a autores estrangeiros inseridos no Neo-Realismo em vários países e autores africanos com assumida influência neo-realista portuguesa. Surgiram, também, muitas editoras ligadas a diferentes grupos de esquerda e extrema esquerda, publicando textos teóricos e outros de intervenção política imediata.

Muitos estudiosos limitam a 1974, com a reconquista da liberdade e da democracia, o período de vigência do Neo-Realismo, mas alguns outros consideram que esta corrente artística ainda não se extinguiu, havendo ainda escritores e artistas que nela participam, embora num contexto muito diferente e segundo formas também muito diferentes. Há quem considere, romances, como por exemplo, Levantado do Chão, de José Saramago, e outros, e algumas obras de artes plásticas e filmes, como eloquentes heranças desse Neo-Realismo anterior a 1974.
Neo-realismo. neo realismo.
Neo-realisTas
Listagem de cultores do Movimento Neo-Realista
nos diferentes domínios
Neo-realismo. neo realismo. Manuel Ribeiro de Pavia
Romance/ Conto
Afonso Ribeiro, Aleixo Ribeiro (2ª fase), Alexandre Cabral, Alves Redol, António Borga, António Vitorino, Antunes da Silva, Augusto Abelaira, A. Vicente Campinas, Baptista Bastos, Carlos de Oliveira, Castro Soromenho, Dias de Melo, Faure da Rosa, Fernando Namora, Franco de Sousa, Garibaldino de Andrade, Ilse Losa, Joaquim Ferrer, Joaquim Lagoeiro, Jorge Reis, José Cardoso Pires, José Marmelo e Silva, José Rodrigues Miguéis (precursor), Júlio Graça, Leão Penedo, Manuel Ferreira, Manuel da Fonseca, Manuel Mendes, Manuel do Nascimento, Manuela Porto, Manuel Tiago, Manuela Porto, Maria Lamas, Mário Braga, Mário Ventura, Miguel Serrano, Modesto Navarro (ou António Modesto Navarro), Orlando da Costa, Orlando Gonçalves, Rogério de Freitas, Romeu Correia, Serafim Ferreira, Soeiro Pereira Gomes, Teixeira de Sousa, Urbano Tavares Rodrigues, Vergílio Ferreira (1ª fase).

Poesia (não inclui os que também foram romancistas)
Álvaro Feijó, António Ramos de Almeida, António Borges Coelho, Armando Ventura Ferreira, Armindo Rodrigues, Arquimedes da Silva Santos, Augusto Sanches Abrantes, Daniel Filipe, Egito Gonçalves, Francisco José Tenreiro, Garcez da Silva, João Apolinário, João José Cochofel, Joaquim Namorado, José Carlos Ary dos Santos, José Carlos de Vasconcelos, José Fernandes Fafe, José Ferreira Monte, José Gomes Ferreira, José Manuel Mendes, José Terra, Luís Veiga Leitão, Manuel Alegre, Mário Castrim, Mário Dionísio, Orlando Neves, Papiniano Carlos, Políbio Gomes dos Santos, Sidónio Muralha.

Teatro
Alexandre Babo, Alves Redol, Bernardo Santareno (2ª fase), Carlos Coutinho, Jaime Gralheiro, José Cardoso Pires, Luís Francisco Rebello, Luis de Sttau Monteiro, Miguel Franco, Orlando da Costa, Romeu Correia.

Artes Plásticas (incluindo escultores)
Alice Jorge (anos 50), Álvaro Cunhal, António Alfredo, António Domingues (também surrealista), António José Soares (Ares), António Ramos (Somar), António da Rocha Correia, Arlindo Vicente, Augusto Gomes, AvelinoCunhal, Bartolomeu Cid dos Santos (reformulação do Movimento), Bento de Almeida, Carlos Calvet (fase inicial, depois surrealista), Cipriano Dourado, Euclides da Silva Vaz, Francisco Relógio (reformulação do Movimento), Guilherme Mateus Casquilho, Huertas Lobo, João Abel Manta (maior intervenção política), João Hogan(fase inicial), Jorge d’Almeida Monteiro, José Dias Coelho, José Farinha, José Manuel Ludovice Santa-Bárbara, José Viana, Júlio Pomar (anos 40 e 50), Júlio Resende (confluência com o Movimento), Lagoa Henriques (confluência com o Movimento), Louro de Almeida, Lima de Freitas, Luís Dourdil (anos 50 e alguns trabalhos posteriores), Manuel de Azevedo, Manuel Filipe, Manuel Ribeiro de Pavia, Maria Barreira, Maria Keil (fase inicial), Mário Dionísio, Maurício Penha, Moniz Pereira (fase inicial, depois surrealista), Nikias Skapinakis (fase inicial), Nuno San-Payo, Querubim Lapa (anos 50), Rogério Ribeiro, Rui Filipe, Rui Pimentel Ferreira (Arco), Sá Nogueira (fase inicial e reformulação do Movimento), Tossan, Vasco Pereira da Conceição, Vespeira (fase inicial, depois surrealista), Victor Palla

Cinema
Manuel Guimarães (o designado por Novo Cinema Português, que incluiu cineastas como Paulo Rocha, Fernando Lopes, António da Cunha Telles, Seixas Santos, Ernesto de Sousa, Artur Ramos, Lauro António, parece ter alguma aproximação ao Neo-Realismo, em especial o da segunda fase; Ernesto de Sousa reivindicava-se, mesmo, do Neo-Realismo)  

Música
Fernando Lopes Graça (a designada “música de intervenção” pode ser assemelhada ao Neo-Realismo: Adriano Correia de Oliveira, Fausto, Francisco Fanhais, José Afonso, José Jorge Letria, José Mário Branco, Luís Cília, Manuel Freire, Pedro Barroso, Sérgio Godinho, Vitorino)

Ensaio (Filosofia)
Bento de Jesus Caraça, Egidio Namorado, Joel Serrão, Jofre Amaral Nogueira, José Magalhães Vilhena, Rodrigo Soares (1ª fase), Rui Grácio

Ensaio (História)
Alexandre Cabral, António Borges Coelho, Armando Castro, Augusto da Costa Dias, Borges de Macedo (1ª fase), Fernando Piteira Santos, Flausino Torres, Joaquim Barradas de Carvalho, José Manuel Tengarrinha, Luís Albuquerque, Victor de Sá, Vitorino Magalhães Godinho.

Ensaio (Economia)
Armando Castro, Eugénio Rosa, Flausino Torres, Gilberto Lindim Ramos, J.J. Costa Jr., João Miranda, Luís de Carvalho e Oliveira, Sérgio Ribeiro (são economistas marxistas)

Ensaio (Literatura)
Alexandre Babo, Alexandre Pinheiro Torres, Álvaro Marinha de Campos, Álvaro Salema, António José Saraiva (1ª fase), António Ramos de Almeida, Armando Bacelar, Armando Martins, Armando Ventura Ferreira, Fernando Marta, Garcez da Silva, Manuel Breda Simões, Manuel Campos Lima, Mário Dionísio, Mário Sacramento, Óscar Lopes, Raul Gomes, Rodrigo Soares (1ª fase), Rogério Fernandes, Rui Feijó, Serafim Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues (alguns também foram críticos)

Ensaio (Teatro)
Alexandre Babo, António José Soares, Arquimedes da Silva Santos, Carlos Porto, Deniz Jacinto, Fernando Lopes Graça, Luís Francisco Rebello, Manuela Porto, Mário Vilaça, Orlando Neves, Rogério Paulo, Urbano Tavares Rodrigues (alguns também foram críticos)

Ensaio (Artes Plásticas)
Armando Vieira Santos, Ernesto de Sousa, Garcez da Silva, Huertas Lobo, Joaquim Namorado, Júlio Pomar, Lima de Freitas, Manuel Mendes, Mário Dionísio, Rui Mário Gonçalves (alguns também foram críticos)

Ensaio (Cinema)
Alves Costa, Ernesto de Sousa, F. Gonçalves Lavrador, José Vaz Pereira, Lauro António, Manuel de Azevedo, Manuel Machado da Luz, Manuel Neves, Manuel Pina, Manuel Ruas (foram críticos)

Ensaio (Música)
Arquimedes da Silva Santos, Fernando Lopes Graça, Francine Benoit, João de Freitas Branco, João José Cochofel, Manuel Dias da Fonseca, Mário Vieira de Carvalho (alguns também foram críticos)
Conheça também o Museu.
Da vontade de um grupo de intelectuais ligados ao movimento neo-realista, nasceu o Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira
WEBSITE DO MUSEU